domingo, 27 de abril de 2008

Distâncias

Gabi, como vão as coisas?
Eu aqui, melhor da gripe, quase sarada, e meio mexida.

Minha mãe vai essa semana praí e pra Berlim, levando presentinhos pra amigos queridos que eu gostaria de levar pessoalmente. A vida aqui às vezes parece tão difícil, o tempo tão racionado, a energia tão pouca... difícil se manter otimista. Não tenho conseguido. O remédio, paleativo, é ir cumprindo uma interminável lista de afazeres, que lembra muito as intermináveis e angustiantes listas que meu pai fazia. Acabei de mandar (mais um) dossiê, descrevendo o que será a última performance deste ciclo do Arquivo. Encerramento. Gostaria que acontecesse, seria um alívio. Quero concluir essa história, ao menos esse capítulo da história, e começar outros. Essa nossa conversa parece ser um novo capítulo, assim como minhas escadas.

Eu comecei a tomar essas medidas-desenho como um modo meio maluco de estabelecer critérios de equivalência entre as coisas do mundo. Equivalência métrica, dimensional, no caso. Um dos trabalhos que fiz com medidas se chama justamente Equivalências. No trabalho do arquivo tem um conjunto de medidas que compilei, às quais chamei de Distâncias. O que me faz pensar nessa expressão tão francesa, que não sei ao certo de onde vem: "prendre du recul".
Gosto de atentar pra essas expressões que não têm tradução exata em outra língua. Denota um modo de pensar (ou sentir, ou ambos) de um grupo que não tem equivalente em outro. (é como a história do enjôo de estômago, que em francês é "mal au coeur"...) "Tomar distância" ou "recuar" em português querem dizer coisas bem diferentes do tal "prendre du recul". E franceses, ao menos os franceses com quem eu convivi, acham que é preciso "prendre du recul" pra formar qualquer idéia sobre qualquer coisa.

E é verdade que distância ajuda muito a ver certas coisas. Mas também impede de ver outras. Não sei se é exatamente sobre isso que estamos trabalhando, mas talvez essa constatação possa entrar de algum modo na nossa reflexão.

Agora, imposto de renda! op là...

Beijos, Gabi, bom domingo,

Gisa

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